sexta-feira, 19 de novembro de 2010

SAPOS DE BARRO PARA AFASTAR CIGANOS.


O assunto é recorrente, acontece mais ou menos por todo o país, e hoje é o Público que nos dá conta da utilização de sapos de barro em lojas de Beja para afastar ciganos, especialmente os do Bairro das Pedreiras

Toda a gente sabe e os próprios confirmam: "Temos azar a esse bicho", diz Joaquim Estrela Marques, 94 anos, patriarca da comunidade cigana naquela cidade, "Cada vez que surge um, arrepiamos caminho", acrescenta Vítor Marques, presidente da União Romani Portuguesa.

Contudo para a alta-comissária para a Imigração e Diálogo Intercultural, Rosário Farmhouse, "importa saber qual é o motivo" por que se recorre aos sapos, admitindo que estes "também servem de adorno" nos jardins de casas particulares; e José Velez, vereador da Câmara de Beja, PS, reitera que o sapo terá um "efeito dissuasor", que é uma forma de dizer que "o cigano não é bem-vindo", para logo a seguir afirmar não valorizar esse "mito" (Importa-se de repetir? MITO?).

As dificuldades de lidar com as comunidades ciganas em Portugal, como aliás por toda a Europa, são antigas. Em Portugal quando se fala de países com conflitos étnicos, normalmente a nossa primeira reacção é dizer que felizmente não temos esse problema, somos um povo, uma língua, uma nação. As matanças e expulsão dos judeus são minimizados como episódios lamentáveis dum passado distante, e quanto aos ciganos não os consideramos propriamente uma comunidade com identidade e cultura próprias, mas basicamente como grupos de indivíduos com hábitos duvidosos e comportamentos reprováveis.

A aversão ao cigano não é levada a caso de racismo, mas apenas a uma natural reacção das suas vitimas, nós os "portugas de gema", cidadãos bem comportados e com os impostos em dia. Hoje o discurso sobre os ciganos resume-se a pouco mais do que a contabilização de direitos e deveres, ficando sempre os ciganos numa situação de endividamento crónico para com o bom povo português com quem, por alegada teimosia e estupidez, a maioria não se quer integrar.

Aqui há dias no FB ao chamar a atenção dum jovem, habitualmente com posições de esquerda, sobre o tom que me pareceu racista com que se referia aos ciganos, respondeu:

"Qt ao último parágrafo, no qual refere q as caracteristicas e os comportamentos negativos de alguns individuos não podem estender-se a toda uma etnia, tb concordo em absoluto (e costumo lutar com garras e dentes contra quem pensa o contrário) ... desde q não estejamos a falar de ciganos (os seres mais racistas q conheço). Chame-lhe racismo , eu prefiro falar em realismo (tendo por base a experiência própria)."

Quanto aos partidos políticos, mesmo aqueles onde existem genuínas preocupações sociais, estão como todos nós, com montes de outros problemas, com coisas mais importantes para fazer do que preocupar-se com algo que na melhor das hipóteses apenas lhes dará um monte de chatices.

Claro que às vezes até se conseguem lembrar que os ciganos existem, por exemplo em 2009 a AR apresentou um "Relatório das audições efectuadas sobre Portugueses Ciganos no âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural", e aqui pelas minhas bandas nas eleições do ano passado foi posto a correr o rumor junto dos ciganos que tinham de votar nos que lá estavam, o PS, pois se os outros ganhassem cortavam-lhes o rendimento mínimo. Para quem esteve nas mesas de voto foi notória a boa afluência de ciganos, por vezes conduzidos por alguém mais influente na comunidade ou na família. Uns dias depois, comentando com um activista da CDU os decepcionantes resultados eleitorais, o único motivo que me conseguiu apontar foi o votos dos ciganos, embora sabendo melhor do que eu que por aqui os ciganos são uma percentagem ínfima da população do concelho.

Dito isto, amanhã é dia de Manif Anti Nato, para a semana temos a Greve Geral e, se as coisas não piorarem muito mais, talvez para Janeiro ponha aqui outro post sobre os ciganos, como fiz há dois meses atrás:

"Ninguém quer fazer mal aos ciganos em Portugal, mas é verdade que eles nos incomodam; o que a gente queria é que eles não existissem"

o que, se compararem com o que acontece noutros blogs até está assim um bocado acima da média geral, ou seja, uma desculpa, tão boa como outra qualquer para, por agora, remeter novamente os ciganos para o fim da fila das nossas preocupações.


Adenda: Artigo no Publico de 22/11/2010
Representantes da Igreja preocupados com as atitudes discriminatórias que "varrem" toda a Europa. Muro que isola o Bairro das Pedreiras considerado "chocante".

9 comentários:

  1. Era o que faltava alguém não ter liberdade para escolher a decoração da sua loja ou da sua casa! E quanto aos ciganos os que mais os defendem são os que mais longe deles querem morar.

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  2. Claro que têm a liberdade de escolher a "decoração", e eu de falar no que isso significa, ou não?

    Já morei a 100 metros dum acampamento ciganos, e agora moro próximo de dois bairros sociais onde moram ciganos, um a 200 metros e outro a 500. O que é que isso tem a ver com o que escrevi no post?

    E o que estou a defender é que a sociedade em que vivo (este cantinho da Europa chamado Portugal), não fique cada vez mais infectada pelo racismo. Não deu para entender?

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  3. Oh J Eduardo Brisso tou-me a cagar se vive ao pé de eles ou com eles. São gente que só sabem é fazer merda e só têm merda na cabeça...

    Ah eles querem igualdades? Paguem impostos. Paguem rendas normais (e nao de 5 euros que nem isso pagavam) como toda a gente... Querem igualdade? Comecem por aí

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  4. E o Anónimo o que é que tem na cabeça para escrever estes comentários?

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  5. de facto nao vou responder de forma antipática como acima foram, mas sou lojista e muitas vezes vitima de burlas de ciganos assim como muita gente que circula na rua ali próximo

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  6. Caro anónimo de 12/8, não nego os problemas que refere, que também me perturbam. O que defendo é que não é com mais descriminação e racismo que esses problemas se resolvem.

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  7. boas eu nao tenho nada contra eles sempre me dei bem e tudo mas nunca os quis a morar na casa com mesmo quintal que eu, ate que ponto eu estou segura em casa ou estender roupa e nunca saber quando a levam ou ir de ferias e eles poderem roubar-me a casa toda? quando eles andam a alugar casas pagam mas depois roubam tudo o que consegem

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  8. vive ou viveu perto de ciganos... ah duvido. Abra um negócio e vai ver o que é bom para a tosse.

    Na minha loja são os maiores consumidores, mas muito provavelmente o próx. investimento será em sapos. muitos sapos.

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  9. Balada de um Batráquio, da realizadora portuguesa Leonor Teles, ganhou o Urso de Ouro para Melhor Curta Metragem no Festival de Cinema de Berlim de 2016.
    http://zap.aeiou.pt/curta-metragem-portuguesa-ganhou-urso-de-ouro-em-berlim-102039

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